Quando o cuidado também é offline: como as empresas podem combater o burnout digital?

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Foto: Ilustrativa/Pinterest

Vivian Muniz/Hoje em Dia –

Vivemos a era da hiperconectividade. O home office e o trabalho híbrido trouxeram flexibilidade, mas também borraram os limites entre vida pessoal e profissional. O resultado? Um cenário onde o burnout digital cresce silenciosamente.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout já é classificado como uma síndrome ocupacional. E não é pouca coisa: pesquisas da Microsoft Work Trend Index mostram que 54% dos trabalhadores no Brasil se sentem sobrecarregados com o volume de trabalho digital. Mais reuniões, mais mensagens, mais urgência. Mas menos descanso, menos espaço para o essencial: recarregar corpo e mente.

Urgência não é importância

Aprendemos — e muitas vezes na marra — que viver em “modo online” constante não é produtividade, é armadilha. Estar disponível o tempo todo pode até soar eficiente, mas o efeito é o oposto: queda de performance, aumento da ansiedade e da exaustão mental.

Criar pausas conscientes é, portanto, um ato de coragem. Empresas que incentivam esse respiro colhem frutos de criatividade, clareza e saúde sustentável. É o que Domenico De Masi chamava de “ócio criativo”: momentos de descanso que abrem espaço para novas ideias florescerem. Pausas não são tempo perdido, mas espaço fértil para a criatividade e a produtividade saudável.

O problema é que muitas empresas ainda associam presença digital constante à eficiência, quando, na prática, esse hábito leva ao efeito contrário: a queda na performance e o aumento dos problemas de saúde mental.

No caso das mulheres, o desafio é mais intenso. A dupla jornada — demandas profissionais somadas às domésticas — torna ainda mais urgente criar políticas claras de limites e respeito. Estudos da McKinsey mostram que, globalmente, mulheres em cargos corporativos relatam níveis de exaustão 32% maiores que os homens, em parte devido a essa dupla jornada invisível.

O trabalho híbrido pode ser um alívio, ao reduzir deslocamentos e permitir dias mais flexíveis, mas também pode se tornar confuso sem uma cultura organizacional sólida. Empresas que adotam esse modelo devem deixar claro quais atividades ocorrem no escritório (reuniões, alinhamentos) e quais podem ser feitas remotamente (produção, análise, escrita), criando um fluxo que respeite a concentração e o tempo individual.

Mais do que políticas formais, é uma questão de valores e liderança. Gestores que enviam mensagens no fim de semana ou cobram respostas fora do expediente enfraquecem qualquer iniciativa de saúde mental. É preciso que os líderes deem o exemplo, estabeleçam acordos para exceções e respeitem os horários pactuados.

Tecnologia como apoio, não como substituto da consciência

Ferramentas de tecnologia podem ajudar, desde softwares que medem o tempo de uso de aplicativos até recursos que bloqueiam notificações fora do horário de trabalho. No entanto, o fator decisivo é a maturidade das pessoas e das equipes para estabelecer acordos claros.

Isso significa discutir abertamente rotinas e restrições. Por exemplo, se uma funcionária precisa buscar os filhos na escola às 16h30, esse deve ser um compromisso conhecido e respeitado por todos. A transparência e o diálogo franco fortalecem a confiança e tornam o trabalho híbrido ou remoto mais sustentável.

O burnout digital não é apenas um problema individual, mas um risco estratégico para as empresas. Funcionários exaustos entregam menos, erram mais e têm maior probabilidade de pedir demissão. Ao contrário do que muitos pensam, cuidar do bem-estar offline não é “ser bonzinho”, é garantir que a empresa funcione de forma saudável e sustentável.

O desafio está em mudar a mentalidade: produtividade não é estar conectado o tempo todo, mas entregar com qualidade, respeitando o tempo de descanso. No fim das contas, nada substitui uma cultura organizacional que valoriza o humano antes do avatar da tela.

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